A ditadura da moda e da imagem tem levado a que o uso de
calçado com salto alto seja uma realidade cada vez mais frequente entre adolescentes.
A mesma pressão social condiciona muitas vezes a continuidade desta opção na idade
adulta.
O uso de saltos altos tem sido descrito como causa não só de
alterações posturais mas também de lombalgias e outras queixas. Será isto uma
realidade ou estaremos perante mais um mito urbano que importa desmontar? A resposta é tudo menos simples. Diversos estudos já
realizados não são unânimes nas suas conclusões …
Em termos posturais, e entendendo a postura como sendo a
posição corporal no espaço e a disposição relativa de todas as partes do corpo
formando um conjunto global que se relaciona diretamente com a força da
gravidade, é fácil entender que estar e/ou caminhar sobre saltos altos altera
todas estas relações. A nossa postura é assegurada fundamentalmente pela contração
dos músculos posturais e por ajustes contínuos no posicionamento dos diferentes
segmentos corporais. O músculo (unidade tendino-muscular) é um tecido
deformável e que se adapta morfologica e funcionalmente em resposta às cargas a
que está sujeito. O uso continuado de saltos altos determina o encurtamento dos
gémeos e alterações do tendão de aquiles.
A manutenção do equilíbrio obriga a uma sobrecarga muscular,
em particular nos músculos das pernas, coxas e região lombar, de forma a
compensar a deslocação do centro de gravidade do corpo para cima e para a
frente. A concentração do peso corporal na região mais próxima dos
dedos condiciona eventuais compressões de estruturas sensíveis como nervos e
vasos sanguíneos e acrescenta sobrecarga mecânica nas articulações
metatarso-falângicas.A instabilidade de articulações como o tornozelo e o joelho
aumenta significativamente o risco de entorses.
Apesar de todas estas alterações ocorrerem, estudos feitos no
sentido de verificar o aumento da curvatura lombar na posição de pé com saltos
altos não são conclusivos.
Também a altura e tipo de salto são variáveis importantes
nesta situação. Um salto de 7,5 cm implica sete vezes maior stress no ante-pé
do que um salto de 2,5 cm. Um salto agulha será com certeza mais instável que
um salto robusto.
Tendo em conta as possíveis alterações decorrentes do uso
prolongado de calçado de salto alto é importante, não abolir o seu uso mas, ter
alguns cuidados de modo a preservar a saúde, de acordo com orientações da Associação Americana de
Fisioterapia:
- Evite o seu uso durante longos períodos de tempo e faça o alongamento dos músculos posteriores das pernas antes e depois de os calçar.
- "Alto” é um termo relativo. Experimente e estabeleça o seu limite nos 5 cm
- Movimente a cintura pélvica (bacia) e alonge os músculos das pernas, isso diminuirá o risco de cãimbras e encurtamentos musculares.
- Compre sapatos de preferência no final do dia.
- Troque para saltos baixos sempre que puder.
- Não opte por sapatos bicudos. Siga esta orientação: Quanto mais alto o salto mais espaço para os dedos.
- Compre calçado com palmilhas de couro que impedem que o pé escorregue.
- Tenha diversidade de calçado, incluindo sapatilhas, sabrinas, e sandálias e alterne diariamente o calçado que usa.
Referências
bibliográficas:
Csapo, R;
Maganaris, CN; Seynnes, OR; Narici, MV (2010): On muscle, tendon and high heels.
The Journal of Experimental Biology 213: 2582-88.
Russel, BS;
Muhlenkamp, KA; Hoiriis, KT; DeSimone, CM (2012): Measurement of lumbar
lordosis in static standing posture with and without high-heeled shoes. Journal
of Chiropractic Medicine 11: 145-53.
Silva, AM; Silveira, GR; Silva, GA (2013): Repercussões do
uso do calçado de salto alto na postura corporal de adolescentes. Revista
Paulista de Pediatria 31(2): 265-71.
Carlos Miguel Santos, fisioterapeuta e formador na Do It Better.
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