segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Saltos altos: cuidado com eles.

A ditadura da moda e da imagem tem levado a que o uso de calçado com salto alto seja uma realidade cada vez mais frequente entre adolescentes. A mesma pressão social condiciona muitas vezes a continuidade desta opção na idade adulta. 

O uso de saltos altos tem sido descrito como causa não só de alterações posturais mas também de lombalgias e outras queixas. Será isto uma realidade ou estaremos perante mais um mito urbano que importa desmontar? A resposta é tudo menos simples. Diversos estudos já realizados não são unânimes nas suas conclusões …

Em termos posturais, e entendendo a postura como sendo a posição corporal no espaço e a disposição relativa de todas as partes do corpo formando um conjunto global que se relaciona diretamente com a força da gravidade, é fácil entender que estar e/ou caminhar sobre saltos altos altera todas estas relações. A nossa postura é assegurada fundamentalmente pela contração dos músculos posturais e por ajustes contínuos no posicionamento dos diferentes segmentos corporais. O músculo (unidade tendino-muscular) é um tecido deformável e que se adapta morfologica e funcionalmente em resposta às cargas a que está sujeito. O uso continuado de saltos altos determina o encurtamento dos gémeos e alterações do tendão de aquiles.

A manutenção do equilíbrio obriga a uma sobrecarga muscular, em particular nos músculos das pernas, coxas e região lombar, de forma a compensar a deslocação do centro de gravidade do corpo para cima e para a frente. A concentração do peso corporal na região mais próxima dos dedos condiciona eventuais compressões de estruturas sensíveis como nervos e vasos sanguíneos e acrescenta sobrecarga mecânica nas articulações metatarso-falângicas.A instabilidade de articulações como o tornozelo e o joelho aumenta significativamente o risco de entorses.
Apesar de todas estas alterações ocorrerem, estudos feitos no sentido de verificar o aumento da curvatura lombar na posição de pé com saltos altos não são conclusivos.
Também a altura e tipo de salto são variáveis importantes nesta situação. Um salto de 7,5 cm implica sete vezes maior stress no ante-pé do que um salto de 2,5 cm. Um salto agulha será com certeza mais instável que um salto robusto.

Tendo em conta as possíveis alterações decorrentes do uso prolongado de calçado de salto alto é importante, não abolir o seu uso mas, ter alguns cuidados de modo a preservar a saúde, de acordo com orientações da Associação Americana de Fisioterapia:
  • Evite o seu uso durante longos períodos de tempo e faça o alongamento dos músculos posteriores das pernas antes e depois de os calçar.
  • "Alto” é um termo relativo. Experimente e estabeleça o seu limite nos 5 cm
  • Movimente a cintura pélvica (bacia) e alonge os músculos das pernas, isso diminuirá o risco de cãimbras e encurtamentos musculares.
  • Compre sapatos de preferência no final do dia.
  • Troque para saltos baixos sempre que puder.
  • Não opte por sapatos bicudos. Siga esta orientação: Quanto mais alto o salto mais espaço para os dedos.
  • Compre calçado com palmilhas de couro que impedem que o pé escorregue.
  • Tenha diversidade de calçado, incluindo sapatilhas, sabrinas, e sandálias e alterne diariamente o calçado que usa.


Referências bibliográficas:
Csapo, R; Maganaris, CN; Seynnes, OR; Narici, MV (2010): On muscle, tendon and high heels. The Journal of Experimental Biology 213: 2582-88.
Russel, BS; Muhlenkamp, KA; Hoiriis, KT; DeSimone, CM (2012): Measurement of lumbar lordosis in static standing posture with and without high-heeled shoes. Journal of Chiropractic Medicine 11: 145-53.
Silva, AM; Silveira, GR; Silva, GA (2013): Repercussões do uso do calçado de salto alto na postura corporal de adolescentes. Revista Paulista de Pediatria 31(2): 265-71.



Carlos Miguel Santos, fisioterapeuta e formador na Do It Better.

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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Mochila escolar: Dor e Alterações posturais em crianças e jovens.



O início do ano letivo implica sempre um acréscimo de preocupações por parte das crianças, jovens e pais. Para além de horários a cumprir, das exigências das metas curriculares, dos exames nacionais, entre outras, é ainda preciso encontrar qual a melhor forma de transportar a enorme quantidade de material e livros solicitada pelos professores.
O elevado número de crianças e jovens com queixas dolorosas ao nível da coluna vertebral e alterações posturais é motivo de preocupação por parte de pais, professores e profissionais de saúde, em particular dos ligados à reabilitação. Acredita-se hoje que a mochila e o seu uso indevido estão relacionados com este tipo de queixas.
  1. Que tipo de mochila é o mais adequado? Com alças ou tipo trolley, com rodinhas?
  2. Qual o peso máximo que a mochila deve ter?

Estas são duas das questões a que estudos elaborados por fisioterapeutas e outros profissionais de saúde tentam dar resposta. Vários são os estudos que apontam o uso de mochilas com peso excessivo como fator determinante mas, não são unânimes quanto peso que estas devem ter. Brackley e Stevenson (2004) afirmam que a sugestão de 10 a 15% do peso corporal tem fundamento na informação atualmente disponível e, este é o limite recomendado pela maioria dos especialistas. De acordo com Goodgold et al (2002) o uso de peso superior a este limite é particularmente grave tendo em conta a vulnerabilidade das estruturas corporais em crescimento.
Relativamente à escolha entre mochilas de alças e trolleys não existe uma linha orientadora. No entanto fica a recomendação para mochilas de alças uma vez que os trolleys são mais difíceis de transportar face aos obstáculos existentes numa escola (escadas, arrumação no cacifo, passagem em corredores com muitas pessoas, etc.)
Entre as possíveis consequências do uso incorreto das mochilas estão:
  •  Dor cervical, dorsal, lombar e, ombros
  • Alterações posturais – Escoliose, Hiperlordose, Anteriorização da cabeça e ombros
  • Fadiga e estiramento muscular
  • Aumento do risco de lesões e de quedas
  • Formigueiro e adormecimento dos braços

Sinais de alarme:
  • Dor referida ao colocar a mochila às costas
  • Alterações de sensibilidade nos braços – formigueiro, adormecimento
  •  Marcas vermelhas das alças nos ombros

Dicas para a escolha da mochila:
  • Tamanho da mochila adequado à criança
  • Alças com desenho anatómico e ergonómico, almofadadas.
  • Costas também almofadadas
  • Cinto na mochila

Dicas para o uso correto da mochila:
  1. Manter o peso da mochila sob vigilância. 10 a 15% do peso da criança.
  2. Usar SEMPRE as duas alças promovendo a simetria da postura.
  3. O comprimento das alças deve ser de modo a que o fundo da mochila fique na linha inferior da coluna lombar e não sobre ou abaixo das nádegas.
  4. Boa arrumação da mochila colocando atrás os objetos maiores e mais pesadosUso do cinto para promover uma melhor distribuição das forças/peso.


Bibliografia:
Barckley H; Stevenson J (2004): Are children backpackweight limits enough? A critical review of the relevant literature. Spine 29 (19); 2184-90.
Goodgold S et al (2002): Backpack Use in Children. Pediatric Physical Therapy 14; 122–31.
Kistner F; Fiebert I; Roach K; Moore J (2013): Postural Compensations and Subjective Complaints Due to Backpack Loads and Wear Time in Schoolchildren. Pediatric Physical Therapy 25; 15–24.


Carlos Miguel Santos, Fisioterapeuta e formador na Do It Better.

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Lesões Hi-Tech: Text neck syndrome ou Síndrome do pescoço SMS


O rápido desenvolvimento e crescimento a que temos assistido nas duas últimas décadas, nomeadamente na área das tecnologias de informação e comunicação, para além de todos os benefícios conhecidos tem também motivado o surgimento de novos problemas.


Parece hoje difícil viver sem a quantidade de informação e sem a possibilidade instantânea de interagir com as nossas redes de amigos e contactos. A utilização massiva de dispositivos móveis quer sejam telemóveis, portáteis, tablets, consolas portáteis ou leitores de mp3 está na origem do que alguns autores já apelidam como uma nova epidemia. Sintomas físicos relacionados com o nível e tempo de utilização deste tipo de dispositivo estão cada vez mais documentados.

A síndrome do pescoço SMS (do inglês text neck syndrome) é, de acordo com Dean Fishman, quiroprático norte-americano, uma epidemia global. Com efeito, o uso abusivo e indiscriminado das tecnologias móveis implica alterações posturais mantidas durante bastante tempo. 

O que é então a síndrome do pescoço SMS?
É, por definição, uma síndrome de sobreuso que envolve a cabeça, o pescoço e os ombros, normalmente como resultado do estiramento excessivo da coluna cervical provocado pela anteriorização e flexão da cabeça verificada durante a utilização de dispositivos móveis de comunicação ou lazer. Pode provocar cefaleia (dor de cabeça), cervicalgia (dor no pescoço), dor nos ombros, braços e mãos, alterações respiratórias, entre outros.
Na prática, a sintomatologia está relacionada com o aumento de pressão sobre as estruturas anatómicas ao nível da coluna cervical que se verifica na postura normalmente adotada durante a utilização dos dispositivos. De acordo com alguns autores, a cada cinco centímetros de anteriorização da cabeça corresponde a um aumento aproximado equivalente a 1 kilo na pressão sobre as estruturas cervicais.
Em média, um cidadão norte-americano gasta cerca de duas horas e meia por dia em interações via telemóvel tanto em mensagens escritas quer em pesquisas na internet.Esta será uma realidade semelhante nas sociedades desenvolvidas pelo que se compreende o alerta para um problema de saúde que se avizinha complexo.
Estudos já realizados demonstram com níveis razoáveis de segurança, a existência de uma associação positiva entre a dor cervical e outros sintomas com o tempo e modo de utilização de aparelhos portáteis.
A não intervenção nesta situação poderá condicionar a médio longo prazo situações como degeneração das vértebras cervicais, alterações posturais, lesões musculares ou sinais neurológicos.

O que fazer?
 Caso suspeite que tem queixas compatíveis com síndrome do pescoço SMS, a procura de um profissional de saúde na área da reabilitação física é uma estratégia. Este profissional procederá a uma avaliação criteriosa e cuidada da sua situação clínica e decidirá um plano de intervenção adequado em função da situação. O tratamento passará seguramente por uma componente de educação e poderá incluir modalidades como a eletroterapia, a terapia manual, a correção postural, entre outras.

Bibliografia:
Korpinen L; Paakkonen R; Gobba F (2013): Self-reported neck symptoms and use of personel computers, laptops and cell phones among Finns aged 18-65. Ergonomics. 56(7); 1134-46.
Berolo S; Wells RP; Amick BC (2011): Musculoskeletal symptoms among mobile hand-held users and their relationship to device use: A preliminar study in a Canadian university population. Applied Ergonomics. 42(2); 371-8.

Carlos Miguel Santos, fisioterapeuta e formador na Do It Better

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Bem - vindos!

Seja bem-vindo ao novo espaço da DO IT BETTER.



Se gostava de trabalhar ou já trabalha, ou se esta área é do seu interesse passe a visitar este blog dedicado ao curso de Técnico Auxiliar Fisioterapia e Massagem. Semanalmente serão publicados artigos de interesse, ofertas de emprego, curiosidades.Poderá também conhecer-nos melhor : sobre a nossa equipa, o nosso curso, os nossos formadores e formandos. Posteriormente passará a ser um espaço de partilha de trabalhos e informações das nossas turmas.

Esperamos contar com as vossas visitas em mais um espaço de conhecimentos partilhados.



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